O valor dos pequenos gestos

Minha avó Antonieta
O relógio marcava 14:30 h naquele domingo. O trem estava estacionado na Estação Taboão aguardando o apito que
liberaria a composição para partir rumo a Campo Limpo Paulista.
Na plataforma, agora vazia, estava apenas a minha avó Antonieta, para se despedir da família no final
de mais uma visita.
Como de costume, enquanto o trem dava seus dois apitos antes da partida, eu sempre ganhava, da janela do trem, um
beijo e um abraço da minha avó, e isso fazia eu viajar feliz, mesmo tendo de voltar para São Paulo e aguardar "a
próxima vez".
Entretanto, num procedimento diferente, naquele dia o maquinista deu apenas um apito e voltou com a composição de ré para
baixo do armazém que ficava antes da estação, onde foi engatado um vagão prancha pequeno.
Do alto dos meus 9 para 10 anos, fiquei esperando que o trem parasse mais uma vez na estação para eu receber o
carinho da minha avó, só que isso não aconteceu...
Dali debaixo do armazém, o condutor deu os dois apitos da partida e passou direto na estação já tomando velocidade,
e, pela primeira vez, fiquei sem o beijo e o abraço da minha avó querida.
Eu era criança, e aquilo me marcou tanto que até hoje eu sinto falta daquela despedida...parece que ficou faltando
um capítulo no livro da minha vida.
Às vezes, nos pequenos gestos que aprendemos o verdadeiro significado da vida.
Carlos S. Filho
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Revisado em:
01 ago 2020 - Hospedado na Webhost
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